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Há dez anos, a Embrapa Hortaliças, em Brasília, oferece cursos presenciais sobre hortas caseiras. Mas as medidas de isolamento social — necessárias para frear a disseminação do novo coronavírus (Sars-CoV-2) — levaram a entidade a lançar aulas online. Nas primeiras horas após o anúncio, mais de 2 mil pessoas se inscreveram. “Quando chegamos a 8 mil participantes, precisamos fechar a lista, caso contrário a plataforma não aguentaria”, conta a bióloga Lenita Haber, uma das criadoras de conteúdo do curso. Para ela, o aumento no interesse pelo cultivo de plantas está evidente. “Neste momento, estamos refletindo sobre muitas coisas, inclusive a importância de termos acesso a ingredientes frescos e saudáveis”, avalia.
Para a nutricionista Vanderli Marchiori, fundadora da Associação Paulista de Fitoterapia (Apfit), o movimento é muito bem-vindo. “Quando cuidamos de uma horta, somos desafiados a criar novas preparações para aproveitarmos a planta ao máximo”, explica. Com isso, a qualidade da alimentação dá um salto.
Essa associação é, inclusive, corroborada por diversos estudos. Em 2019, pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, avaliaram indivíduos que praticavam a horticultura em sua comunidade. Eles notaram que esse pessoal apresentou maior vontade de cozinhar, saboreou mais itens frescos e reduziu o consumo de fast-food.
Em 2017, uma revisão assinada por uma equipe da Universidade de Tóquio, no Japão, destacou ainda o papel desse tipo de atividade contra depressão e ansiedade — problemas que ganham terreno com o distanciamento social. “Mexer com a terra acalma”, afirma a nutricionista Luciana Tomita, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A expert montou uma horta comunitária no terraço da instituição para beneficiar a dieta e a saúde mental dos alunos.
Mas não só. Ela leva estudantes de medicina para conhecerem o espaço e perceberem que, mais tarde, ao atender populações de baixa renda, é possível incentivar uma alimentação equilibrada mesmo com recursos financeiros limitados. Afinal, uma horta cabe em qualquer espaço e não pesa no bolso. Vamos aprender os passos básicos?
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DICAS PARA QUEM VIVE EM ESPAÇOS PEQUENOS
1- A escolha das espécies
Não existe regra. Mas os professores acham que, para quem mora em espaços diminutos ou está iniciando na horticultura, compensa mais apostar em ervas e temperos. A herbalista Gabi Pastro, da Hortas e Saberes, na capital paulista, é fã de cebolinha, salsinha, coentro e manjericão. “São muito fáceis de semear”, explica. Alecrim, orégano, hortelã e sálvia também se destacam — a turma toda tem mil usos na cozinha.
Se optar por mudas, elas crescem rápido, empolgando o jardineiro novato. O agrônomo Osmar Mosca Diz, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, só sugere aguardar de 15 a 20 dias para a colheita de estreia. “Se cortar na primeira semana, não haverá folha suficiente para a planta fazer fotossíntese e se desenvolver”, ensina.
2- Defina o local
A nutricionista Luciana, da Unifesp, reforça que não há limitações quanto ao tamanho do espaço disponível. “O essencial é que a área escolhida receba sol, o fator que mais interfere no crescimento da planta”, avisa. Antes de você acomodar a hortinha em um local específico, a dica de Gabi é anotar o horário em que os raios solares começam e terminam de bater ali. “O ideal é pegar, no mínimo, quatro horas de sol”, calcula.
A herbalista comenta que a ventilação natural também faz diferença. Contudo, a horta não deve tomar vento em excesso — o que muitas vezes acontece em varandas localizadas em andares altos. “O solo pode secar muito rápido e, aí, a planta não aguenta”, conta o jardineiro e paisagista Randall Fidencio, do canal de YouTube Vila Nina TV.
3- O recipiente adequado
Entre os vasos, os de cerâmica agradam pela beleza e por facilitar a transpiração das plantas. “Mas os de plástico também funcionam”, diz Fidencio. Para Gabi, um material ingrato é o metal, porque esquenta demais. Assim, a raiz não avança perto das paredes do vaso, prejudicando seu crescimento e a evolução plena da planta.
Na linha de reaproveitar o que já existe, Luciana indica caixas de isopor — daquelas descartadas por supermercados. “São muito práticas”, defende. A bióloga Lenita, da Embrapa Hortaliças, dá outras saídas sustentáveis: garrafas pet e de leite. “Nesses recipientes mais estreitos, prefira espécies que ficam eretas, como alecrim”, aconselha. Todos os itens exigem furos embaixo para evitar o acúmulo de água e o apodrecimento da raiz.
4- Pontapé no plantio
De acordo com Diz, uma boa para os jardineiros de primeira viagem é adquirir mudas prontas, vendidas em vasinhos com terra. Isso porque sua raiz já está bem desenvolvida. “A planta cresce rapidinho”, nota. Para isso, basta transplantar a muda para o vaso (ou outro recipiente) definitivo, que precisa ter o tamanho certo para a espécie e um solo rico.
Outra alternativa é recorrer à semente. Nesse caso, demora mais para ver e usar a planta — mas há a satisfação de acompanhar o processo do zero. Agora, se você comprou manjericão, salsinha ou cebolinha no supermercado e eles vieram com a raiz, uma possibilidade bacana é botar essa parte na terra para rebrotar. Se tiver só o talo, Fidencio indica deixá-lo em um copo com um tiquinho de água no fundo. Em uns dez dias a raiz dá as caras. Daí é só levar para o vaso.
5- Solo preparado
Já ganhou um tempero de lembrancinha e não conseguiu mantê-lo? Isso provavelmente ocorreu porque a terra nesses vasos não oferta nutrientes. Por isso, após selecionar um recipiente definitivo para a planta, é indispensável preparar o solo. Fidencio recomenda colocar uma camada de argila expandida (para a drenagem) e outra de terra — mas não pode ser qualquer uma.
“A correta é aquela conhecida como substrato ou terra vegetal”, relata. Ela é preta, soltinha e supernutritiva. Só após uns quatro meses o adubo é requerido — priorize os orgânicos, como húmus de minhoca e esterco. Ou aprenda receitas caseiras. Fidencio, por exemplo, gosta de bater água, pó de café e cascas de banana e de ovo no liquidificador. É com o líquido que ele realiza a rega.
6- Hora de molhar
Sem receita de bolo aqui: a exigência de água varia de acordo com a espécie cultivada, a época do ano, as condições da terra, entre outros fatores. Para Gabi, o mais corriqueiro é as pessoas acharem que mataram as plantas pela falta de água. “Só que, normalmente, é o contrário”, frisa.
Para ter noção se chegou a hora de regar, a herbalista orienta empregar o truque do dedômetro. É assim: você cava a terra e finca o dedo lá dentro, até mais ou menos a segunda falange. “Se sentir a ponta dele úmida, não regue”, diz. Só busque água em caso de secura.
“Há uma mania de verificar apenas a parte de cima da terra. Mas ali costuma estar seco mesmo, por causa do sol”, completa. Se as folhas se mostrarem amareladas e em queda, eis outro sinal para maneirar na irrigação.
7- Precauções na poda
Esse processo, tão crucial para a manutenção da planta, é também o momento da colheita de ervas e temperos — quando as perfumadas espécies podem, finalmente, ser lançadas nas panelas. “Se quiser, dá para podar todo dia”, informa o agrônomo da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Antes de passar a tesoura, é imprescindível conhecer bem sua horta. “Tem gente que vai na base e corta tudo, detonando a planta”, anuncia Fidencio, do Vila Nina TV. “Umas se recuperam, mas outras morrem”, acrescenta. Então, ao definir o que cultivará, pesquise sobre a espécie — incluindo seu ponto de corte. Depois de uma poda correta, o esperado é que ela rebrote rapidinho.
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DICAS PARA QUEM VIVE EM ESPAÇOS MAIORES
1- A eleição das plantas
Para quem pode ter vasos (ou outros recipientes) de grandes dimensões, o plantio de hortaliças, raízes e frutíferas é interessante, já que permite um maior volume de produção. Se optar por árvores — como jabuticabeira, limoeiro, e por aí vai —, só ajuste expectativas. “É impossível ter uma copa generosa se o sistema radicular, ou seja, a raiz, está em um espaço limitado”, esclarece Diz. A árvore dará frutos, mas dentro de suas possibilidades, claro.
Agora, se houver um canteiro à disposição para o plantio ser realizado direto no solo, aí é garantia de desenvolvimento ilimitado. “Em comparação ao vaso, trata-se de uma condição menos estressante para a planta”, resume Lenita. “Por outro lado, os cuidados necessários aumentam”, pontua. Dedicação é a palavra de ordem.
2- Arrumação do terreno
Nos vasos, o preparo do solo segue a linha citada para quem vive em espaços menores. No chão, porém, há especificidades. É preciso, por exemplo, promover uma limpa no terreno. Tire mato, plantas invasoras, restos de construção, enfim, todas as impurezas. “Aquilo que não se decompõe deve ser removido”, sintetiza Lenita.
Ela incentiva preparar um canteiro de, no máximo, 1,20 metro de largura. “Esse limite é para facilitar a manipulação das plantas”, justifica. Se for maior, imagine o trabalhão para mexer nas espécies que ficarem na área central — ora, pisar nas colegas pode botar tudo a perder.
Garanta pelo menos uns 30 centímetros de profundidade. Após um mês do plantio, foco em adubar: como os canteiros estão expostos o dia inteiro e o ciclo produtivo é intenso, repor nutrientes é decisivo.
3- Controle de pragas
Não é que vasinhos com ervas e temperos sejam imunes a elas. “Mas, quanto mais extensa a área, maior a suscetibilidade a problemas fitossanitários”, contextualiza a bióloga da Embrapa Hortaliças. Para Fidencio, uma das maneiras de preservar a saúde da horta é não amontoar as plantas. “Elas exigem ventilação e sol”, argumenta o jardineiro.
Outra medida antipragas é investir no chamado consórcio de espécies. Segundo Lenita, um ambiente com vários tipos de plantas atrai insetos benéficos e ganha resistência contra doenças. Só que não dá para organizar o canteiro de qualquer jeito. “Tenha cautela para que uma frutífera não faça sombra para aquilo que fica rente ao solo”, exemplifica a especialista.
4- Rodízio de variedades
Para o solo ser mais bem estimulado, o jardineiro do Vila Nina TV fala para alternar os locais de plantio. “Onde tinha folhas, depois você põe tubérculos”, cita. Mas evite enterrar sementes pequeninas, como as de alface e rúcula, direto no espaço considerado definitivo. Reserve um pedacinho de terra para elas. “Como se fosse um berçário”, brinca Osmar Diz. É que esse momento inicial demanda delicadeza no manejo. Só depois de mais desenvolvida é que a muda deve ser transplantada para sua área oficial.
Cabe ressaltar ainda que apostar em espécies diferentes traz ganhos não só ao bem-estar da horta. Trata-se de uma oportunidade para tornar a alimentação variada e permitir o contato com uma infinidade de nutrientes. Fora o gostinho de saber a origem do alimento. Esse é único.
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