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Na época da faculdade, tinha um amigo que todo dia comia uma barra de chocolate ao leite. Eu, ele e outros colegas chegávamos juntos na lanchonete e o Fernando degustava seu “elixir”. Um certo dia, ele, muito educadamente, me ofereceu o último pedaço. Não tive dúvida: agradeci e aproveitei a gentileza sem cerimônia (eu também adoro chocolate!).
Naquele instante, percebi no olhar do Fernando um quê de reprovação. Meio sem jeito, ele disse: “O último pedaço é o melhor”. Antes de seguirmos adiante, responda rapidinho a enquete abaixo – você verá que ela tem tudo a ver com o tema e nossas tentativas de emagrecer.
Bom, o “sabor especial” do último pedaço tem justificativa. Mas, para explicar isso, vou começar pelas primeiras mordidas.
O prazer em consumir alimentos é iniciado pela experiência gustativa e pelas lembranças daquele sabor. No cérebro, tudo fica armazenado dentro do sistema límbico, que chamamos popularmente do controle de qualidade (saiba mais no livro O Fim das Dietas).
Ao escolhermos o alimento e darmos as primeiras garfadas, seu sabor nos traz o prazer do paladar e das memórias ligadas ao sabor. Ao longo desse consumo, nossas papilas vão transformando a comida em inúmeras combinações de sabores doces, salgados, amargos e ácidos, com um verdadeiro degradê entre cada um.
Por pura curiosidade, nós conseguimos sentir aproximadamente 10 mil sabores!
Ao continuarmos a ingestão, teremos o segundo mecanismo de prazer, que é ver o final do alimento. Pois é: a gente tende a gostar de esvaziar o prato ou, no mínimo, a ficar mais atento com a mordida final. É a última oportunidade de aproveitar uma delícia qualquer – e aí está a pegadinha!
Toda a vez que colocamos muito alimento no prato, teremos esses dois mecanismos atuando em conjunto: o prazer da ingestão e o de ver o final da comida.
Como então podemos lidar com essa armadilha? O primeiro passo é não chegar para as refeições com muita fome.
Quando famintos, nós pegamos mais alimentos do que precisamos e damos preferência para os mais aromáticos, saborosos e possivelmente mais calóricos. A fome compromete nossa racionalidade e afeta a tomada de decisões.
A segunda estratégia é, sabendo disso, realmente ficar de olho na quantidade. Vou dar um exemplo.
Tenho outro amigo que, quando vai ao restaurante japonês, adora encher a mão com aquelas balinhas que ficam perto da saída. Aí não tem jeito: todas elas vão da mão para a boca.
Como evitar isso sem radicalismo? Pegue UMA balinha e saia do restaurante. Ao chegar no carro – ou mesmo em casa para os mais pacientes –, consuma a gostosura. O prazer duplo de ingerir aquele docinho continuará acontecendo.
Agora, se você pediu um prato que já vem pronto, divida a quantidade que irá consumir e retire o restante da sua frente.
Minha vó dizia que não podemos deixar comida no prato, porque várias crianças passam fome no mundo. Acontece que, se comermos sem necessidade, essas crianças vão continuar famintas – ao passo que nós engordaremos. São dois problemas em vez de um.
Para evitar o desperdício, embrulhe o que não aproveitar e doe para alguém. Minha avó ficaria bem feliz com essa atitude.
Para emagrecer, precisamos de um mapa sobre nós mesmos. Assim fica mais fácil definir o caminho que escolheremos para o nosso destino. A propósito, nunca ofereça o último pedaço do seu chocolate. Desculpa Fê!
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